terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dona Senhora

Há alguns anos atrás acabei por firmar uma parceria com uma empresa instalada no bairro da Saúde em São Paulo, por conta desta parceria, freqüentemente tenho que me deslocar até a capital, muito de contra-gosto, mas são ossos do oficio!

Não sei precisar exatamente quando foi que percebi a personagem que motiva estas linhas de hoje, mas em dado momento, reparei que na Av. do Estado, próximo a Ponte do Tamanduateí, uma senhora que eu não sei o nome, não sei a idade, não sei sua historia, suas dores...nada, me chamou a atenção...




O rosto negro sem nome, que tinham uma árvore no jardim de sua casa, e morava de frente para o rio, era o que se chama de moradora de rua.

Estava ali, talvez porque fosse fraca demais para suportar as pressões da vida moderna! Aquela mulher que estava ali, talvez porque fosse forte demais para suportar tudo!

A realidade que furta sonhos, a cerca de marcas: Ferrari, Visa, Suvinil, Coca-Cola. Para ela o que sobra das melhores marcas. Eu sempre passava de carro, era impossível parar, o trânsito caótico, piora com a aproximação do Mercado Municipal.


Sempre quis ouvir sua historia, não sei se por curiosidade, ou pena, ou talvez apenas mais um daqueles hipócritas sentimentos burgueses. Imaginava seu dia-a-dia, como conseguia comida, já que nunca havia a visto esmolar, como fazia suas necessidades, o que acontecia quando chovia forte e com vento, de onde vinha água para ela beber, como ela lidava com a violência da madrugada...?

A vida seca, cheia de fuligem, é tão distante do conforto do meu e do seu computador, da vida cibernética do mundo virtual!

A Dona Senhora, se foi...Hoje ao passar enfrente a sua residência, já não havia nada além de muro!



Não sei se mudou...

                      Não sei se encontrou vida...

                                                           Não sei se morreu...


Então hoje o carro me pareceu pequeno, e hoje eu estava em São Paulo, mas sozinho do que nunca, o calor abafava, a poeira dava as mãos para a fumaça preta dos escapamentos, e me esbofeteava a cara com uma realidade que tento fingir não me afetar, quantos daqueles vizinhos de Dona Senhora, não possuíram os mesmo sonhos que eu tenho hoje, quantos não se iludiram com uma vida confortável aos 50 anos, uma aposentadoria recheada de viagens, quantos...




Todos eles sentem dor, sentem fome, frio e medo, como nós. Os desejos e anseios que em nós crescem em forma de consumismo, neles afloram como espinhos, que machucam como navalha em carne queimada.





Eles moram na capital financeira do país, e o Brasil passa por eles todos os dias, despercebidos, com seus cabrestos da moda, rumam para as televisões das salas, se chocam com as noticias, ficam escandalizados que ninguém faz nada pra mudar isso tudo, desligam a TV e vão dormir...



Boa noite Dona Senhora que Deus esteja sempre contigo

Um comentário:

  1. É triste. Dentro do nosso carro, ar condicionado e vidro com insul film, parece que esses elementos nos "ajudam" a manter um afastamento. Essas pessoas, moradores de rua, são como pichações em São Paulo. As pessoas falam mal, não gostam, mas eles estão ali e a gente "aprende" a conviver e até parece que é normal...Triste.

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